quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Professor como agente de mudanças (3)

Ao lermos o texto de João Wanderley Geraldi podemos observar como que ao longo do tempo a nossa identidade profissional de professor foi sendo remodelada e reformulada, de acordo com o contexto histórico em que a escola estava inserida, atendendo também às demandas de nossa sociedade e o tempo histórico vivido pela mesma.
A relação entre o professor, o aluno e os conhecimentos sofreram também diversas mudanças ao longo dos tempos.

"Cada proposta pedagógica, na história ou no presente, define diferentes posições para cada um destes três elementos, dando ênfase ora a uma, ora a outro destes três pólos"

A escola durante muito tempo foi vista como sendo “o lugar em que se ensina, lugar em que se aprende”, e o professor por sua vez, seria aquele que teria todo o poder (a autoridade) sobre este conhecimento que seria transmitido para a cabeça de seus alunos. Ao professor cabia a função de ser o agente do sistema de conservação desse conhecimento (herança cultural), e não de transformação do mesmo, o professor é visto como sujeito que controla o processo de aprendizagem dos alunos.
Sabemos que esta não é mais a nossa realidade. Hoje em dia temos diversos recursos que nos proporcionam o acesso à informação e ao conhecimento além dos muros da escola. Desta forma, o professor é visto como agente de transformação. Um professor mais reflexivo e investigativo, não devendo se colocar como um professor refratário, resistente a todas essas mudanças.
Assim sendo, o professor deve procurar estabelecer a parceria e não a autoridade com seus alunos, construindo e desconstruindo junto todo aquele conhecimento trazido por ambos, contestando o conhecimento científico, produzindo assim novos conhecimentos que serão produzidos pela escola, e desta maneira estaríamos quebrando o paradigma da ciência na escola.

"...trata-se de pensar o ensino não como aprendizagem do conhecido, mas como produção de conhecimentos, que podem resultar também em novas articulações entre conhecimentos disponíveis"

Assim sendo a aula torna-se um acontecimento dado de formas e maneiras diferentes.

Por Débora Aparecida

2 comentários:

  1. IMPOSSIBILIDADE
    É curioso como, sem perceber, algumas leituras e conversas vão modificando um indivíduo sem que ele nem mesmo se dê conta...
    Como indivíduo muito falante que sou, tenho grande prazer em contar histórias. Algumas fictícias, outras infantis, umas fidedignas, outras nem tanto...
    A história/reflexão - Narrativa? - que gostaria de dividir com vocês se inicia com uma frase que ouvi há pouco tempo de uma grande colega de trabalho chamada Mônica.
    Mônica é uma professora de 4º ano de escolaridade e, como é comum em professores que desenvolvem seus trabalhos com uma turma desta fase, estava muito preocupada com a quantidade de conteúdos e sua relação com a aprendizagem das crianças.
    Falávamos de práticas de sala de aula: o que privilegiar para o momento de ensinoaprendizagem, que atividades oferecer... e enveredamos pelos caminhos do ensino da Matemática. Quando começamos a falar sobre as contas do "Arme e Efetue", a professora, do alto do seu metro e quase oitenta de altura, diz:
    _ Zé, é engraçado , mas tem umas coisas que eu não consigo mais fazer!
    _ Como assim, Mônica?
    _ É... não consigo passar simplesmente o arme e efetue, sem contexto, sem uma razão, só as contas e pronto.... não consigo mais.
    Mônica me dava o testemunho de que algo em sua prática se modificara de uma maneira irreversível, desde que certas compreensões se iluminaram para ela.
    Este pequeno diálogo ganhou uma outra conotação para mim com o debate que tivemos em nossa sala sobre as propostas levantadas após a leitura do texto "A aula como acontecimento" de Wanderlei Geraldi.
    O professor, ao observar a relação existente entre professor, aluno e conhecimento através dos tempos no ocidente, nos evidencia ao que, muitas vezes, nosso trabalho intelectual foi reduzido: meros transmissores do conhecimento produzido por outrem.
    A metáfora do regente de turma, que como o regente da orquestra se preocupa apenas no controle de um grupo enquanto este executa o que está escrito em suas partituras, foi o que falou mais forte em minha cabeça, quando ouvi: Zé, é engraçado , mas tem umas coisas que eu não consigo mais fazer! Ao se debruçar sobre sua rotina, Mônica pode comparar o vivido anteriormente com o construído agora e dizer que, daquela maneira, pautado sobre aquela lógica, ela, atualmente, não conseguia mais exercer o seu fazer pedagógico.
    Ela podia até não perceber, mas ao se abrir para uma nova possibilidade - diante da impossibilidade explicitada por ela - estava quebrando sua batuta de regente. Mônica é um exemplo de uma classe, que inquieta diante de tantas transformações no mundo, na sociedade e na escola, busca o entendimento de sua prática para uma atuação diferente.
    Observando as ponderações de Priscila e Cintia consigo perceber este professor, importante agente de manutenção de uma ideologia e também - parafraseando Gramsci - ente indispensável na implementação de uma contra ideologia, buscando um novo espaço diante das diversas transformações que a sociedade está sofrendo.
    Paradoxalmente, a impossibilidade levantada por Mônica e por muitos é que abre a vida para outros caminhos. Me agrada pensar que é nessas novas possibilidades que a vida dá um salto.

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  2. IMPOSSIBILIDADE (PARTE 2)
    Nossos encontros e reflexões coletivas mostram que este modelo de escola que compreendemos está se destruindo de dentro para fora. Junto com ele, caem também os modelos de aluno e de professor, como um reflexo de um movimento muito maior: a decadência do paradigma vigente e a emersão de um novo, tendo, neste intervalo, uma série de outras opções de ser, estar e atuar no mundo

    Estas possibilidades pululam nesse nosso período de crise do paradigma moderno (será o início da pós-modernidade? Ou seria a retomada de um caminho que a modernidade apagou?). e não poderia ser diferente na escola. Geraldi nos aponta um modo diferente de estar e atuar na escola. A própria idéia de "dar aula" perde sentido nessa nova possibilidade que se desenha. A aula é um acontecimento que envolve professor e aluno e sua relação paritária com o conhecimento. Professor e aluno são produtores, co-produtores e re-produtores do conhecimento, em um movimento em que a repetição - refletir novamente sobre algo já refletido - gera novas possibilidades de ensinaraprender.
    Foi a impossibilidade que possibilitou vislumbrar um novo caminho. Ao não conseguir mais fazer o que fazia foi que Mônica pensou algo diferente. Já citaram Drumond mas gostaria de chamá-lo outra vez: No meio do caminho há uma pedra. Mas temos tudo para, ainda que custe, passarmos por ela e continuarmos um novo caminho.

    Zé Ricardo

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